O Quinto e último Ato de “Espectros de Shakespeare“, J. Andreazzi mescla os sons dos pianos aos movimentos coreográficos, aos textos, ao espaço, ao vento da distancia e da aproximação dos corpos desses personagens, que se misturam aos versos shakespearianos. Na parte inicial desse ato, uma vez mais, emerge da escuridão o som do piano, o que fica situado à direita e na frente do palco, um piano totalmente condenado a eterna condição de não afinamento, onde as intérpretes, como fadas potentes e inebriantes, surgem como em um feitiço assoprado pelo vento, montadas nas teclas do piano, são elas: Bruna Dias e Isabella Franceschi, Dias sentada no topo desce piano castelo, que toca em marcha cavalheiresca, de modo entusiasmado e fantástico, como se empurrasse com os seus pés o “piano-trono de sangue” para o abismo, enquanto Franceschi, como em um concerto do fim do mundo, toca virtuosamente, com suas brutais e ao mesmo tempo, adocicadas mãos, as teclas condenadas ao desafinamento eterno. A ênfase da pesquisa de linguagem corporal de Andreazzi, nesse ato, extrapola a própria corporeidade e a vocalidade, como em um daqueles pesadelos em valsa, que galopa na mesclagem das imagens, aos sons do piano tocado a dois pés e duas mãos, que funciona como lanças em chamas sonoras, que pontuam toda a coreografia e a dramaturgia do final do espetáculo, possibilitando com isso, a orquestração dos três corpos dos intérpretes a agirem e reagirem, com uma execução acuradamente viceral, realizada de forma brilhante, Fabiola Camargo, Ricardo Silva e Tais Magnani, assim como Bruna e Isabella captaram a essência da proposta criada por Andreazzi, como se dardos sonoros fossem lançados nas articulações: sinoviais, membranosas e fibrosas dos bailarinos, a utilização intensa dos contatos dos corpos, faz esse trio valsar uma valsa falsa e manca, nos encontros e desencontros, nos encaixes e desencaixes dos corpos e dos sons, surge uma coreodramaturgrafia apoteótica, que se encaixa como uma luva, para o fim desse jogo aparentemente, substancioso, espectral e sonoramente trágico.
Uma vez mais, é importante lembrar, que o figurino criado e executado por David Schumaker , foi um toque divino e grandioso, na simplicidade, na clareza e na eficiência poética, assim como o trabalho de assessoria musical de Ettore Verissimo, que estiveram em total harmonia com a proposta apresentada por Andreazzi. VALE CONFERIR!!!
Link de acesso ao QUINTO e ÚLTIMO ATO – ESPECTROS DE SHAKESPEARE” :
Video na integra do QUINTO ATO – FINAL do “Espectros de Shakespeare – Do Outro Lado do Vento”. Foram postados na integra, os cinco atos do espetáculo, da versão da sua estreia em 2010, no Teatro Anchieta, do SESC Consolação, na cidade de São Paulo.Vídeo captação e edição Osmar Zampieri. No Canal do Youtube da Cia. Corpos Nômades.
O Bardo é a grande fonte de inspiração para este projeto, que conta com o 6º Programa Municipal de Fomento à Dança. Admirador e pesquisador de sua obra desde 1993, João Andreazzi transfere todo um processo de investigação cênica da Cia. Corpos Nômades ao universo de Shakespeare. Esse novo espetáculo, resultado do projeto “Espectros de Shakespeare”, é focado principalmente nas tragédias “Macbeth”, “Otelo”, “Rei Lear” e “Hamlet”, tendo seus personagens espectrais extraídos diretamente desses textos para a composição desta montagem.
Além das tragédias, alguns sonetos do autor completam a poética da coreodramaturgrafia. Influenciaram também a pesquisa para esta montagem, filmes de Laurence Olivier (Hamlet e Rei Lear), de Orson Welles (Macbeth), de Akira Kurosawa (Trono Manchado de Sangue e Ran), de Peter Greenway (Prospero’s Books) e alguns livros como Oriente Ocidente escrito por Salman Rushdie, Hamlet-Machine por Heiner Müller, Teatro e Sociedade: Shakespeare por Guy Boquet, A Tragédia Shakespeariana por Andrew Cecil Bradley e diversas óperas que utilizaram o tema.
FICHA TÉCNICA Direção e Coreodramaturgrafia: João Andreazzi Elenco: Bruna Dias, Fabíola Camargo, Isabella Franceschi, João Andreazzi, Ricardo Silva, Tais Magnani e Alexandre Manchini Textos: William Shakespeare Assessoria Poética: Claudio Willer Trilha Sonora: Vanderlei Lucentini Assessoria Musical: Ettore Veríssimo Desenho de Luz: Cia. Corpos Nômades e PH. Figurino David Schumaker Observadores Participativos: Alessandra Souza, Amanda Correa, Juliano Maltez, Ligia Marinho, Maju Minervina e Rafaela Fusaro Fotos de ensaio: João Andreazzi Cenário, Figurino e Vídeo-Arte: Cia. Corpos Nômades Designer Gráfico: Rafael Benthien Assessoria de Imprensa: Canal Aberto Produção: Cia. Corpos Nômades