A Captação do vídeo e a edição foi feita por Osmar Zampieri, ex-bailarino do Balé da Cidade, que já há um bom tempo, vem realizando um trabalho com registros de espetáculos de dança na cidade de São Paulo, de forma consistente, esse registro em especial, foi possível haver o trabalho em conjunto na edição do material, com o criador da Corpos Nômades João Andreazzi, proporcionando um resultado primoroso, conectado com as coreodramaturgrafias dessa obra.
Um complemento e soma importante à criação, foi o trabalho do figurinista David Schumaker, que captou perfeitamente, com muita inteligência, sensibilidade e talento, a proposta de Andreazzi. Vale conferir!
Link do Preambulo, prologo e Primeiro Ato do “Espectros de Shakespeare – Do Outro Lado do Vento”2010 https://youtu.be/kbal8djcm1U?si=G6c2sQ2V0-Ufnk0H
Preâmbulo/Abertura: O piano afinadíssimo, fica “encantado” pelas mãos da intérprete Bruna Dias, durante a entrada do público na platéia do Teatro. Essa composição é da própria intérprete, que tem uma atuação muito completa nessa obra, pois ela alinhava à pesquisa corporal, realizada por Andreazzi junto a Cia. Corpos Nômades, seus talentos nas artes da cena, tocando, cantando e dançando de forma plena. Nessa versão de 2010, tanto Bruna, como a intérprete Isabella Fanceschi, foram fundamentais, para o conceito cênico da obra, pois nas coreodramaturgrafias, as presenças de dois pianos eram essenciais, um piano extremamente afinado e um outro completamente desafinado e já condenado a não haver mais afinação, eles representavam dois Tronos de reinados fictícios, envolvendo as personagens das tragédias shakespearianas, em especial: Hamlet, Rei Lear, Macbeth e Otelo – “De um lado do palco o Piano/Trono intacto afinado à coexistência humana e do outro lado, um Piano/Trono de sangue, corrompido e desafinado ao ato da coexistência harmônica e humanizada”-Andreazzi. O piano está presente em várias obras criadas por Andreazzi, em Espectros de Shakespeare, os Pianos são protagonistas. Nas temporadas da antiga sede Espaço Cênico O Lugar, os pianos aparecem fundidos aos cenários e nas coreodramaturgrafias, das obras: “Hotel Lautréamont – Os Bruscos Buracos do Silêncio” – inserido desde a versão da temporada de 2010, “Na Infinita Solidão Dessa Hora e Desse Lugar” -2011 e no “Uma Sinfonia entre a Medula Óssea e o Piscar dos Olhos” – 2012. Disponíveis também no Canal do Youtube da Cia.
Prólogo- Há um imenso tubo de conduíte na cena, que envolve três intérpretes, num ambiente que remete à uma recepção de um aeroporto, uma estação de trem ou uma rodoviária, um intérprete bo fundo direito do palco (Andreazzi) projeta a voz dentro da tubulação preta, que enrola-se ao tronco de outra intérprete (Tais Magnani) posicionada no centro/fundo do palco, e no outro extremo se encontra outra intérprete (B.Dias), com o extremo da tubulação direcionada no ouvido esquerdo, e simultaneamente vai falando o mesmo texto no microfone. O personagem, do meio da cena, como um tintureiro, carrega muitos ternos em cabides, representando todos os assassinatos realizados pelo casal MacBeth’s.
Primeiro Ato – Ventiladores são acionados, os personagens projetam as intenções: do olhar e da voz, com toda a força dos pulmões, para atingirem, “do Outro Lado do Vento”, os espectros shakespearianos. Nessa ação máquina corpo, espalham-se palavras no espaço, que lapidam todas as construções coreodramaturgráficas. Nesse primeiro ato, pode-se apreciar a forte presença de referencias de pensamentos/escritos de Deleuze e Guattari, quando se referem aos corpos Masoquistas, Paranoicos e Esquizofrênicos, nas obras “Mil Platôs Capitalismo e Esquizofrenia”, incluindo o “Anti-Édipo”. Nesse primeiro momento do espetáculo, há duos, trios e quartetos com uma atuação potente e latejante, completamente inseridos na metodologia de trabalho corporal cênico de Andreazzi.
Mais sobre o conceito do espetáculo
“Seus personagens trágicos demonstram tanta grandeza, que em seu erro e queda podemos ter viva consciência das possibilidades da natureza humana.” (A. C. Bradley). A obra de William Shakespeare, o mais influente dramaturgo do mundo, provocou e continua provocando inúmeras discussões sobre atos e conflitos de natureza humana. Por encorajar o espectador a ter suas próprias ideias, o debate com Shakespeare torna-se estimulante. Uma oportunidade de entrar em contato com as regiões mais obscuras do ser humano é conferir de perto o espetáculo “Espectros de Shakespeare – Do Outro Lado do Vento”, novo trabalho da Cia. Corpos Nômades que estreia no Teatro Anchieta no dia 12 de maio de 2010 e depois seguiu com temporada no O LUGAR, a partir do dia 28 de maio de 2010, na sede da companhia, dirigida pelo coreógrafo e bailarino João Andreazzi.
O Bardo é a grande fonte de inspiração para este projeto, que conta com o 6º Programa Municipal de Fomento à Dança. Admirador e pesquisador de sua obra desde 1993, João Andreazzi transfere todo um processo de investigação cênica da Cia. Corpos Nômades ao universo de Shakespeare. Esse novo espetáculo, resultado do projeto “Espectros de Shakespeare”, é focado principalmente nas tragédias “Macbeth”, “Otelo”, “Rei Lear” e “Hamlet”, tendo seus personagens espectrais extraídos diretamente desses textos para a composição desta montagem. Além das tragédias, alguns sonetos do autor completam a poética da coreodramaturgrafia.
Toda a proposta do espetáculo é calcada no trabalho corporal desenvolvido nos últimos anos pela Cia. Corpos Nômades, com atenção especial para o trabalho de improvisação como processo cênico, aliado ao trabalho técnico com um forte contato com o chão e outros corpos, incorporando o contato e improvisação ao processo criativo, inserindo o teatro, a música e a vídeo-arte, possibilitando despontar daí uma dramaturgia extraída dos gestos, movimentos, objetos, textos, sons e imagens. “Ofélia”, “Macbeth”, “Lady Macbeth”, “As Três Bruxas”, “Hamlet”, o “Espectro de Hamlet” e muitos outros personagens são dissecados e fundidos à coreodramaturgrafia buscando, mais do que o sofrimento trágico apresentado de forma literal, uma substância trágica capaz de unir as cenas transformando-as em referências da existência humana, assim como foi feito por outros artistas, cineastas, escritores e compositores sobre a obra de Shakespeare. Influenciaram também a pesquisa para esta montagem, filmes de Laurence Olivier (Hamlet e Rei Lear), de Orson Welles (Macbeth), de Akira Kurosawa (Trono Manchado de Sangue e Ran), de Peter Greenway (Prospero’s Books) e alguns livros como Oriente Ocidente escrito por Salman Rushdie, Hamlet-Machine por Heiner Müller, Teatro e Sociedade: Shakespeare por Guy Boquet, A Tragédia Shakespeariana por Andrew Cecil Bradley e diversas óperas que utilizaram o tema.
FICHA TÉCNICA Direção e Coreodramaturgrafia: João Andreazzi Elenco: Bruna Dias, Fabíola Camargo, Isabella Franceschi, João Andreazzi, Ricardo Silva, Tais Magnani e Alexandre Manchini Textos: William Shakespeare Assessoria Poética: Claudio Willer Trilha Sonora: Vanderlei Lucentini Assessoria Musical: Ettore Veríssimo Desenho de Luz: Cia. Corpos Nômades e PH. Figurino David Schumaker Observadores Participativos: Alessandra Souza, Amanda Correa, Juliano Maltez, Ligia Marinho, Maju Minervina e Rafaela Fusaro Fotos de ensaio: João Andreazzi Cenário, Figurino e Vídeo-Arte: Cia. Corpos Nômades Designer Gráfico: Rafael Benthien Assessoria de Imprensa: Canal Aberto Produção: Cia. Corpos Nômades