3 Inglês

João Andreazzi e a Cia. Corpos Nômades se inspiraram na obra de Isidore Ducasse, que adotou o pseudônimo de Conde de Lautréamont, para escrever “Os Cantos de Maldoror” (escrito entre 1868 e 1869). Nascido no Uruguai, o autor morreu misteriosamente em 1870, desconhecido, aos 24 anos, em Paris.

A corporeidade e a vocalidade da Cia. Corpos Nômades prestam-se para alargar o conceito de coreodramaturgrafia; a coreografia e a dramaturgia utilizam-se dos  corpos dos intérpretes e dos objetos cênicos para orquestrarem e ressoarem  toda a poética lautreamontiana.  A criação do espetáculo foi instigada e alimentada pelo tradutor das obras do Conde de Lautréamont, o poeta e ensaísta Claudio Willer, um encontro de inteligências malditas abençoando todo o processo investigativo.    Esse procedimento, como foi o caso da parceria com a dramaturga Marici Salomão para a criação do espetáculo “O Barulho Indiscreto da Chuva”, dá continuidade à investigação cênica, avançando na interação do corpo com o espaço total – com o que fica abaixo da pele e com o que se estende além dela.

Em cena, dirigidos por João Andreazzi, seis intérpretes divididos em solos, duos, trios, e quartetos unem elementos da dança contemporânea com outras artes, como a música eletrônica, teatro e vídeo-arte, intensificando e ampliando as possibilidades do corpo na cena. Complementa o trabalho a parceria com o tradutor da obra Claudio Willer, possibilitando um maior entendimento e desenvolvimento da dramaturgia no corpo, do corpo e para o corpo.

No lugar de uma impossível transposição literal das narrativas de Lautréamont, Hotel Lautréamont – Os Bruscos Buracos do Silêncio é uma montagem de fragmentos, detalhes sugestivos, impressões provocadas por passagens do texto por sua gama de sugestões visuais e sonoras e, especialmente, corporais.

A obra pode ser lida como apresentação do mundo onde tudo pode ser outra coisa: uma epopéia da metamorfose, especialmente da transformação dos corpos. Daí seu bestiário, que tanto impressionou aos surrealistas: o homem-peixe, o piolho gigante, os adolescentes-tarântulas, dragões, a bruxa transformada em bola de esterco, o escaravelho gigante, o homem com cabeça de pelicano, o arcanjo-caranguejo, o Deus-rinoceronte. Essas transformações simbolizam a liberdade absoluta, através da capacidade de ultrapassar as barreiras do corpo físico. Por isso, é mutante também o protagonista, o próprio Maldoror, ora jovem, ora de cabelos brancos, transformado em águia para combater a esperança, polvo para lutar com Deus, porco em seu sonho da felicidade perfeita, coisa informe, misturada à natureza, objeto de identidade indefinida.

Os integrantes da Cia. Corpos Nômades vão se metamorfoseando diante do público, criando, por sua vez, novos corpos, ou os mesmos corpos, mas sempre multiplicando suas possibilidades expressivas.

Hotel Lautréamont – Os Bruscos Buracos do Silêncio é uma criação que se processa através de ressonâncias, de sensibilidade para sensibilidade, passando dos trechos e conteúdos da obra de Lautréamont – especialmente a experiência de sentir-se um estranho no mundo, um hóspede neste nosso insólito “hotel” terreno – para os espaços cênicos, e destes para o espectador, assim convidando-o à recriação, à cumplicidade e participação. É um convite ao público, para que este mobilize sua imaginação, e se torne co-autor dessa obra em processo, em permanente movimento – simbolizado pela imagem da ratoeira perpétua – que o autor de Os Cantos de Maldoror pôs em marcha. “Claudio Willer”

  (foto: Cris Lyra)

Gravação com cortes para TV:

Gravação na integra de “Hotel Lautréamont- Os Bruscos Buracos do Silêncio”, com apenas uma câmera sem edição.

https://www.youtube.com/watch?v=OEys_7VVK8A