LUGARIZAÇÃO – Residência Coreográfica 2017
A Cia. Corpos Nômades e o Espaço Cênico O LUGAR recebem para esta edição as artistas do corpo: Letícia Rodrigues, Luisa Coser, Gabriela Branco, Maria Basalto e Lilian Wiziack. Os resultadas destas residências serão mostrados na X Mostra Lugar Nômade de Dança , que acontecerá de 01 a 10 de dezembro de 2017.
CASA (título provisório) – Letícia Rodrigues
A pesquisa em dança CASA propõe habitar com o corpo e habitar o corpo, com as estruturas físicas do O LUGAR. Não pretende-se utilizar os espaços reservados para apresentações (salas Sul e Norte), mas pretende-se utilizar as escadas, garagem, banheiro, cozinha… e tantos outros espaços que poderão ser instigantes enquanto recursos para a criação artística.
Durante a residência, a pesquisa de movimento, do corpo no espaço e da criação se dará através da exploração do corpo nos diferentes espaços do O LUGAR. Serão consideradas as especialidades deste espaço e sua rotina: fluxos, trânsitos, fluidez e vãos para a criação artística. Portanto, a pesquisa será um processo de imersão onde corpo e espaço se tornarão um só.
Ao final dos três meses de residência, o que será apresentado na X Mostra Lugar Nômade de Dança, é uma performance que pretende levar o espectador a observar, por outros estímulos e perspectivas, os diferentes espaços do O LUGAR.
Estados Corporais:
Um dispositivo para a improvisação e criação em dança- Gabriela Branco
A pesquisa corporal que norteia este projeto consiste em mapear, explorar e saturar estados corporais por meio de dois caminhos: 1. Memórias e 2. Palavras. Quando se diz via memórias, significa que busca-se trazer alguma memória pessoal para compreender a sensação e sentimento a ser externalizada em forma de dança improvisada, ou seja, um mergulho provocativo sobre tal memória para se atingir, fluir, reverberar, um ou muitos estados que surgem da mesma. Quando se diz via palavras, significa que busca-se extrair o estado corporal a partir do sentido literal de palavras que remetem a sentimentos ou qualidades de movimento, sem preocupar-se em atrelar qualquer memória, experiência ou lembrança.
Pensar esta pesquisa no formato de aulas, atribuiu um novo caráter para o estudo, pois a participação ativa (com feedbacks) de cada aluno são contribuições e reflexões profundas de viabilizar o funcionamento dos exercícios, conteúdos e jogos cênicos propostos. Assim, percebe-se que a pesquisa torna-se muito mais que uma aula com conteúdos, mas uma aula que promove diferentes experiências consigo mesmo e com o coletivo, além de proporcionar uma entrega nítida de todos os corpos que entram para o mergulho dançante, que é descobrir sua própria dança a partir da sua própria história, as memórias, como também dança-la com estados que são provocados a partir da via das palavras.
Proposta para o programa de residência artística no Espaço Cênico O LUGAR tem-se o desejo de continuar a pesquisa individual para finalizar o processo criativo no formato de um espetáculo. A criação se encontra em um momento distinto do apresentado na abertura de processo pela V Mostra no CRDSP, “Antologia de Resiliência” (vide link abaixo), pois desvencilhou-se dos textos de diário de bordo que compõem a antologia, transformando o resilir do corpo entre estados sobre a temática que surge a partir das palavras “sabotagem”, “resistência” e “subversão”. O processo criativo, por enquanto, sofreu influência dos filmes “Animais Noturnos” e “Dogville”, como referência. Além dos livros de Virgínia Woolf, Rumo ao Farol e As Ondas. Objetiva-se, então, organizar o emaranhado de cenas existentes, criando um roteiro, encontrando as transições para fechar o processo. Assim, a intérprete criadora busca concretizar o espetáculo também com figurino apropriado, cenário e possíveis materiais necessários com a ajuda de custo atribuída aos residentes do LUGARIZAÇÃO 2017, além de concluir o título do espetáculo.
LAMA – Luisa Coser
A proposta de pesquisa e criação de Lama interroga o discurso oral como lugar de poder: quem detém a palavra, que lugares legitimam essas falas e que relações de poder neles se moldam. Refletir sobre espaços onde são encenados e proferidos sentenças e argumentos do norte político e cultural de um país tornou-se um imperativo para o pensamento artístico neste projeto, em tempos autoritários e arbitrários. Sendo assim, pensar o espaço cênico (no contexto das artes cênicas) também como um lugar onde se reproduz a espacialidade de centro-periferia – de onde um fala e muitos escutam- conduz a uma investigação elementar da relação entre publico X performer.
Consequentemente, analisar a expressividade e a fisicalidade dos atos de fala em espaços de governabilidade emerge também como uma necessidade de repensar o corpo em cena como produtor de discursos, reguladores, normativos e que atendem às expectativas do público – do outro. Interrogar, enfim, a partir do corpo em cena, o que é permitido (que zonas podem se expressar ou não) e tentar desbravar e alargar trajetos de comunicabilidade é uma premissa da investigação praticada nesta pesquisa.
ZovCoBorob CoBaVzba – Maria Basalto
ZovCoBorob CoBaVzba nasce de um jogo com as sonoridades de(a) Voz, (do) Corpo e (da) Boca. A ideia é realizar um trabalho cênico que propõe a exploração e experimentação do diálogo/relação entre o corpo em movimento e múltiplas sonoridades vocais. ZovCoBorob CoBaVzba:
-Busca explorar a voz enquanto extensão do movimento;
-São ondas sonoras criadas no corpo e que ocupam o espaço; -É poesia sonora e sons das palavras;
-É a transmutação de Voz Boca Corpo;
Em ZovCoBorob CoBaVzba
-o miolo do corpo enxerga pela boca;
-há um organismo que tem a boca como principal canal de comunicação com o mundo; -só é possível ouvir pela boca; ver pela boca; sentir pela boca.
MODO-CÃO – Lilian Wiziack
MODO-CÃO é uma proposta de criação em dança contemporânea que busca, a partir da obra Wolf Alice, da artista plástica Gina Litherland, entrar em contato com o modo de ser “cão” do corpo. Em Wolf Alice, podemos ver uma garota humana que parece escutar uma mensagem secreta de um lobo, ou seja, de um híbrido ela-lobisomem. Um tornando-animal tornando-menina. As pinturas de Litherland, habitam universos de cheios ambiguidade, com animais e criaturas, mistério, feminino, hibridismo, etc.
Através da desestabilização de padrões de comportamento do corpo humano, pretende-se experimentar as possíveis fissuras existentes nesse padrão e entrar em contato com outros modos de habitar o corpo. Entende-se essa experiência como uma busca de criar, a partir da aproximação com o corpo canino, possíveis atravessamentos que desestabilizem o corpo em seu modo de ser e abra lacunas para modos desconhecidos.
O corpo do cão vive totalmente sua natureza, com uma afirmação positiva da nudez da vida.