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Esta montagem é inspirada nos textos do dramaturgo Heiner Muller, nas sinfonias de Gustav Mahler e na obra do cineasta Luchino Visconti. A dramaturgia é intimamente conectada à coreografia, orquestrando imagens, movimentos e sons. O público verá uma proposta ousada de encenação: nas apresentações serão utilizados dois palcos diferentes. Do piso térreo, onde acontece a ação principal das coreografias, aprecia-se simultaneamente as performances dos bailarinos no piso superior por intermédio de duas câmeras que transmitem as imagens em tempo real. As imagens são projetadas atrás dos bailarinos e proporcionam momentos de interação entre as performances.

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Nesta peça “coreodramaturgráfica”, a Cia.Corpos Nômades, com direção de João  Andreazzi, teve a importante colaboração do grupo musical Projeto Axial e do músico Vanderlei Lucentini, que, através dos encontros de improvisação inspirados nos acordes Gustav Mahler e nos textos de Heiner Müller, proporcionaram grande parte do material sonoro do espetáculo, que se funde com os sons produzidos pelos intérpretes ao vivo e por intermédio de instrumentos musicais e recursos de voz.

As influências que construíram “Uma sinfonia entre a medula óssea e o piscar dos Olhos”

Os textos de Müller (“Descrição de Imagem”, alguns pensamentos e o poema “Odor de Sabão”), as sinfonias de Mahler (essencialmente os adagietos, “A Canção da Terra” e o “Quarteto de Cordas e Piano”), as inspirações dos filmes de Luchino Visconti, como o clássico “Morte em Veneza” (que se inspirou em Gustav Mahler) e “Os Pássaros” de Alfred Hitchcock (que serviu de inspiração para Heiner Müller), nortearam e proporcionaram as características de todo o processo criativo deste espetáculo. Estas obras, unidas à direção de Andreazzi, transferiram ao espetáculo momentos puramente poéticos e líricos, traduzidos em coreografias que elucidam instantes de extrema sensibilidade artística.

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O primeiro contato de João com Heiner Müller se deu em 1987, quando assistiu “Hamletmachine”, peça do alemão, com Marilena Ansaldi, no extinto Teatro Igreja em São Paulo. Depois o reencontrou com o texto “Descrição de Imagem”, no começo dos anos de 1990. Sob esta influência, Andreazzi montou um solo intitulado “Película da Retina”, que participou em 1989 do “Movimentos de Dança” no SESC Consolação, e do primeiro “Masculino na Dança” do Centro Cultural São Paulo, em 1990.

Já o contato com Gustav Mahler aconteceu ao assistir o filme “Morte em Veneza”, de Luchino Visconti. Neste filme, Visconti inspira-se em Mahler e utiliza de forma intensa o “adagieto” da 5ª Sinfonia. Estas lembranças criativas e afetivas se associaram com a história de vida destes artistas. Heiner Müller (1929-1995), alemão, serviu exército ainda em sua adolescência em uma das últimas batalhas da 2ª Guerra Mundial e integrou o Partido Socialista Unificado da Alemanha, em 1947. Gustav Mahler (1860-1911), austríaco e judeu, se casou com Alma Mahler e se converteu ao catolicismo no início do movimento nazista. Estes registros de imagens ficaram na memória do coreógrafo e impulsionaram a escolha destes artistas para “Uma Sinfonia Entre a Medula Óssea e o Piscar dos Olhos”.

“Estas diferenças e contrastes de existências despertaram o desejo de abordar o estado de emergência, de “Guerra sem Batalha” (livro auto-biografico de Heiner M.), desta bomba sanguínea da luta diária do existir como artista, cidadão, da necessidade de estar a cada dia da forma que espera os costumes e maneiras da sociedade, a aceitação das diferenças culturais, religiosas, politicas e sociais fizeram de forma inquietante a criação desta nova obra, onde sons, imagens e movimentos são surpreendentemente fundidos em todo o trabalho das coreodramaturgrafias (fusão da coreografia, dramaturgia, objetos cênicos, música e o do vídeo)”, explica Andreazzi.

Este espetáculo contou com o aporte do XII e XIV Programa Municipal de Fomento à Dança de São Paulo e com a Funarte – no Edital Prêmio Procultura de Estímulo ao Circo, Dança e Teatro 2010.