“A dança contemporânea dialogando com a cultura do Carnaval e do Hip-Hop.”
Édipo Rei de Sófocles transformou-se em ícone moderno e pós-moderno por criar personagens que foram adotados pela psicanálise e filosofia, ao expressarem os mais secretos desejos humanos. O relato dessa tragédia, advinda de uma lenda grega, foi fundamental para a concepção do espetáculo, pois permitiu ampliar o leque de imagens e movimentos.
A história de Édipo – filho de Laio e Jocasta, pai de Etéocles, Ismênia, Antígone e de Polinices – é considerada a tragédia das tragédias ao colocar em foco questões como o parricídio e o incesto; mas também é motor do pensamento e da pesquisa de questões como as das oposições e interações entre o público e o privado, a norma e a transgressão, o destino e a invenção.
A análise desconcertante e complexa deste mundo capitalista e esquizofrênico por Fêlix Guattari e Gilles Deleuze.
O Anti-Édipo – Capitalismo e Esquizofrenia, obra de Deleuze e Guattari, foi primordial para essa nova montagem; em especial o capítulo 1, “As Máquinas Desejantes”. Seus autores, contrapondo-se à psicanálise de Sigmund Freud e inspirando-se em diversos escritores, principalmente em Antonin Artaud, fazem um strip-tease de órgãos, despindo o ser humano, em seus estudos sobre a sociedade contemporânea.
É de pus, pústula, uma ferida ilustre, ÉdiPus uma máquina desejante.
O Corpo e a cultura que o envolve; a dança contemporânea pesquisada pela Cia. Corpos Nômades interagindo com as culturas do Carnaval e do Hip-Hop.
Essas culturas tão universais conectam-se à idéia do nomadismo, que fundamenta tanto o surgimento quanto o conceito da linguagem corporal da Cia. Corpos Nômades. Outros pontos de conectividades das escolhas para essa montagem são a noção de “lugarização”, além de haver uma referência ao público e o privado; e, no caso do Carnaval/carnavalização, com a lenda de Édipo, no que diz respeito ao seu bisavô Lábdaco: este reprimiu o culto das bacantes, que ganhavam extrema influência religiosa e política na cidade. Teria profanado um altar a Dionísio, o que provocou a fúria das bacantes, que o mataram por esquartejamento.
Essas fontes de inspiração que pairaram e se infiltraram nos corpos nômades da Companhia conectam-se à idéia da coreodramaturgrafia para construir um alicerce “liso e estriado”, densamente imagético, povoado por referências: os corpos masoquistas, esquizofrênicos e paranóicos que aparecem nas análises de Deleuze e Guattari; a bissexualidade de Laio com Crísipo; o enigma da esfinge para Édipo; a luta de Etéocles e Polinices, filhos de Édipo, pelo poder; Antígona, a irmã emparedada; a linhagem de coxos que envolve o próprio Édipo; a cegueira profética tanto de Tirésias quanto de Édipo.
Contou com o patrocínio da Sabesp, através do Programa de Incentivo à Dança Paulista – 2008.